Sinto
falta daquela sua presença exagerada, independente da estação, espantando o
frio e dando sentido ao meu quarto, espalhando risos e insinuações travessas
pelos sofás tão sérios da minha sala, fazendo da cozinha nosso espaço predileto
para realizações curiosas e muito mais saborosas, deixando rastros de entusiasmo em meio às cinzas
de desejos de breve repetição por cada canto da casa e, sem querer, também cócegas
e borboletas inexplicáveis por toda a alma. Sinto falta de não precisar mais
dos relógios quando você finalmente chegava, de tornar-me invencível e de ouvir
as mesmas melodias secretas quando você simplesmente me olhava, de passar os
domingos espreguiçando-me entre seus abraços sempre acesos e de com suas mãos ficar
inventando planos distantes ou histórias. Sinto saudades da sua cara de sono ao
perguntar-me as horas e das minhas mentiras piedosas com medo de que você fosse embora, do seu cabelo despenteado pelo meu desajeito e da facilidade acessível de
sentir-me, sem esforços, feliz. Sinto saudades até mesmo de nossos raros desencontros,
de deixar-me levar pelas melhores frases-feitas, por sua retórica impecável,
que fazia de qualquer desculpa a mais perfeita, das suas promessas surpreendentes e da minha evidente
certeza. Sinto falta do tempero, da vontade e da sintonia indescritível do
beijo, da fé que exalava e me acalmava naturalmente o desespero, dos defeitos
que nunca precisaram de meros reparos ou consertos. Sinto falta, de repente, do meu mundo inteiro.
“Vamos a querernos toda la vida,
Como se quieren la noche y el día cuando hablan de ti.
Vamos a querernos en cualquier vida,
Porque prefiero dejarme morir que estar sin ti.”
La
Oreja de Van Gogh em Mi vida sin ti