sábado, 25 de dezembro de 2010

Conto de solidão

Era visivelmente tarde e ele ainda insistia na hesitação, mas sabia que estava na hora de voltar para a casa, onde apenas, com plena verdade, seu pequeno e fiel cão o aguardava. Aquela tinha sido mais uma noite sem histórias que merecessem ser contadas, sem estrelas cadentes que trouxessem renovadas ilusões, sem presentes cheios e insinuantes de recíprocos sentimentos. Por cada quarteirão, o ruído triste de seus passos, propositalmente, lentos era a única e disposta companhia próxima, pois tudo parecia, por uma eternidade, adormecido, esquecido, se já não havia, por parte alguma, o menor resquício da véspera do dia feliz para o qual todos haviam muito se preparado e, com alegre ansiedade, tanto esperado.
A quase todo o momento, ele, inquietamente, consultava o relógio novo que levava no pulso, e como se não quisesse acreditar, balançava, em  forma de negação, a cabeça, fixando-se na velocidade impiedosa dos ponteiros que lhe esvaziavam as oportunidades que poderiam, quem sabe, conter aquelas mesmas horas. Mas era possível perceber que, em silêncio, tentava fazer promessas fáceis para um tempo que não tardaria, que ainda buscava algo que lhe devolvesse um pouco de calma, de glória naquele fim de madrugada.
Sua casa já estava a alguns metros, porém ele não queria chegar, preferiu sentar-se ali mesmo na calçada deserta, e, encolhendo-se por causa do frio, admirava, saudosamente, uma fotografia gasta que conservava, independente dos anos, sempre dentro da carteira. Seu olhar se perdia entre detalhes, como se tivesse a necessidade de decorar cada expressão, seus pensamentos pareciam, por uma distância imensurável, vagar e, sendo assim, não era tão difícil e vergonhoso inundar-se em lágrimas, se, ultimamente, considerava normal estar, em todos os sentidos, perdido, se não conseguia mais sentir medo, porque conhecia bem o que era ser sozinho. 

2 comentários:

  1. Eu gosto da solidão.
    Bonito seu conto,propício para o dia.

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  2. "É a solidão que inspira os poetas, cria os artistas e anima o gênio."
    Abraços Junior e Ótimo Sábado de Natal!

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